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sábado, janeiro 19, 2008

CRISTIANISMO HOJE

IGREJA CATÓLICA
ADERINDO A REFORMA
PROTESTANTE?

Estariam os católicos romanos afastando-se cada vez mais da velha Contra-Reforma e aderindo aos valores e crenças da Reforma Protestante? Apesar do aparente conservadorismo da cúpula do catolicismo romano podemos perceber, e aferir especialmente quanto ao Brasil, muitas mudanças que revelam sua inclinação a preceitos defendidos pelos reformadores e também a seus ramos mais recentes. Há tendências, nessa aproximação: Há o caso dos “Carismáticos” (Renovação Carismática Católica). Por exemplo, o padre Marcelo Rossi, um fenômeno da mídia: Cantando músicas de autores evangélicos – “Anjos de Deus”, entre outras – fez sucesso e faturou milhões com a venda dos CDs. As missas que celebra têm a descontração de um culto pentecostal. Poderíamos, realmente, afirmar que a Igreja com sede no Vaticano caminha em direção a mudanças defendidas no Século XVI? Quando eu era criança havia apenas presbiterianos, dentre os protestantes, em minha cidade. Nosso templo era constantemente apedrejado, tendo seus vitrais quebrados. Nós, os evangélicos, éramos muito discriminados. A maioria dos seus habitantes era composta por migrantes de origem italiana, que vinha do interior de São Paulo em busca das terras vermelhas do Norte do Paraná. Nos anos quarenta várias fogueiras de bíblias arderam ao pé de cruzeiros em cidades como Jataizinho, Ibiporã, Warta (interior de Londrina), Cambé, Astorga, etc. Hoje nossa cidade, com cerca de cem mil habitantes, tem mais de cinqüenta igrejas evangélicas. Na verdade, a força da pregação e da presença protestante (antes do advento do neo-pentecostalismo, principalmente, que veio mais para confundir com seu sincretismo – abrigando às vezes práticas espíritas e animistas) levou a Igreja católica a repensar sua práxis. Seria, no entanto, mais uma estratégia do que uma inclinação teológica? Cremos que foi especialmente o crescimento expressivo dos protestantes, no Brasil e em toda América Latina, que levou o Concílio Vaticano II a abandonar preceitos que vigoravam desde a chamada “Contra-Reforma”, que mantinha a grande maioria do povo católico na ignorância quase total das Escrituras: Desde o Século XVI, até 1964, o leigo católico era proibido e desaconselhado a examinar a Bíblia Sagrada e as missas eram rezadas em Latim. Durante mais de quatro séculos essas proibições, aliadas a uma catequese deficitária para a admissão à primeira comunhão, contribuíram para o declínio espiritual dos leigos. Essa deficiência bíblico-doutrinária tornou-se vasto campo para a evangelização por parte de pastores e lideres protestantes. Bastou um século e meio da proclamação da fé reformada para o Brasil sair do zero estatístico para mais de 25% de cristãos evangélicos. Outro fator, que vem minando o antigo dogmatismo, de certa forma, diz respeito à idolatria (culto a imagens, no caso, pois em alguns meios neo-pentecostais cresce certo tipo de idolatria). Lembro-me de que, na minha infância, o altar do templo católico de minha cidade era abarrotado de imagens de santos diversos – sobressaindo-se a figura do santo padroeiro – que até hoje está entronizado no altar, com cerca de três metros de altura. Hoje há templos católicos que têm apenas uma cruz em seu altar. No final de 2007 tive a oportunidade de, juntamente com um presbítero da IPB local, entrar no templo católico, na cidade de minha infância, para a audição de uma cantata de Natal, reunindo corais de duas cidades. Chegamos ao final da missa e aguardávamos junto à entrada. Ficamos surpresos, e comovidos, quando ouvimos o povo ali reunido cantar um dos mais tradicionais hinos do “Novo Cântico” presbiteriano, “Deus Grandioso”, na primorosa versão do falecido Rev. Natanael Emmerich. Os presentes cantavam em pé, sob a luz de um retroprojetor, sem saber de sua origem e da teologia protestante que o inspirou.

Havia mais surpresas naquela noite memorável. O repertório da Cantata era composto, basicamente, de clássicos de nossos hinários: “Nasce Jesus”, “O Primeiro Natal”, entre outros. Havia um soprano cuja voz fazia vibrar em nossas almas o toque celestial de um anjo cantando. No final do belíssimo evento tivemos a oportunidade de conversar com a jovem – que não pertencia a nenhum dos corais – e ficamos sabendo tratar-se de uma irmã da Igreja Presbiteriana Independente, de Londrina, que contribuía com seu talento e esmerada técnica vocal para os corais católicos. Esses são apenas alguns exemplos para ilustrar nossa afirmativa de que a Igreja Católica Romana afasta-se cada vez mais da famigerada “Contra-Reforma”. Há mudanças na liturgia, nas prédicas, nas ênfases – inclusive pela TV. Infelizmente quando muitas igrejas locais, de tradição protestante, vão se esquecendo do precioso manancial de sua música tradicional, muitos católicos vêm reconhecendo seu valor, aprendendo a cantar seus hinos – mesmo que raramente reconheçam sua origem. Neles encontramos plena significação bíblica, fundamentos da teologia reformada e expressões musicais de suas confissões de fé. Enfim, será que podemos afirmar que a Igreja Romana aderiu a Reforma Protestante? Podemos dizer sim e não! Sim, porque o maior conhecimento da Bíblia desperta a consciência das pessoas para a reflexão (“Conhecereis da verdade e a verdade vos libertará”, ensinou Jesus o único Senhor da Igreja) e também para uma ideologia antes rejeitada como herege. Por outro lado a música evangélica, especialmente a protestante, é expressiva e formativa – com grande poder de anunciar o legítimo Evangelho. Tão poderosa é a música que cunharam a frase: “Se queres ganhar a guerra, cante a música do teu inimigo” – porém, quando se trata de ganhar almas o inimigo não é carne ou sangue e o inimigo real treme diante da verdadeira adoração. Podemos também afirmar não, por tratar-se de sincretismo, tão característico do pós-modernismo. Nenhum dos dogmas e crenças advindas do “magistério interpretativo da Igreja” e das decisões conciliares e papais foi abolido, ainda – muitos dos quais estão em permanente choque com a verdade bíblica (o significado sacrificial da missa; as canonizações e culto aos santos da Igreja; a intercessão pelos mortos; o significado do batismo como meio de salvação, etc.). Em seu excelente artigo, publicado na Revista Ultimato de janeiro/2008, o Rev. Robinson Cavalcanti mostra como falácia a tese de que a Igreja Católica Apostólica Romana seria a legitima sucessora da Igreja Primitiva, descrita nos Atos dos Apóstolos. Afirma ele: “As igrejas orientais são anteriores à Igreja de Roma e nunca foram subordinadas a ela por jurisdição e muito menos por autoridade monárquica”. Além de não ser “a” Igreja cristã, mas apenas um ramo dela, a instituição governada pelo Vaticano não abre mão de se considerar dona do “Magistério” das Escrituras (isto é, autoridade e poder de interpretar e acrescentar ensinos e dogmas através dos séculos, mesmo que agridam a integridade hermenêutica da mesma). O que podemos afirmar é que existe uma grande sede espiritual, em nossos dias. Se há avanços e reconhecimento do valor de teses defendidas pelos reformadores do Século XVI, por parte de algumas ordens da hierarquia romana, testemunhamos o crescimento de religiões que afirmam ser “evangélicas” ensinando superstições e crendices manipuladoras a multidões de pessoas que erram, por não examinar com zelo e reverência a Bíblia Sagrada. Jesus disse a um grupo religioso: “Errais por não conhecer as Escrituras nem o poder de Deus”. Diante dessas mudanças, para melhor e, infelizmente, também para pior, é oportuno relembrar algumas ênfases da Igreja Reformada: “Sola Scriptura”; “Sola Gratia”, “Sola Fide”, “Solo Christus”, “Soli Dei Glória”. Religião, apenas, não basta, é necessário conhecer, amar e obedecer a Verdade que liberta: Jesus Cristo! Os que assim peregrinam fazem parte da verdadeira Igreja de N.S.Jesus Cristo, que transcende as denominações, formando o glorioso Corpo de Cristo na terra.

José J. de Azevedo